O Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil cresceu 1 por cento no primeiro trimestre deste ano sobre os três meses anteriores, resultado em linha ao esperado e com forte expansão do setor agropecuário, mas os investimentos continuam em queda.
De acordo com o relatório das Contas Nacionais Trimestrais, divulgado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o primeiro crescimento trimestral após oito trimestres. Não se via um resultado positivo desde a alta de 0,5% registrada no quarto trimestre de 2014, perante os três meses antecedentes.
Com o resultado, tecnicamente o Brasil saiu da recessão. Em valores correntes, o PIB totalizou R$ 1,595 trilhão. A agropecuária registrou a maior expansão em mais de 20 anos e foi destaque entre os setores calculados pelo IBGE, com salto de 13,4% em relação ao trimestre imediatamente anterior. Foi o maior crescimento desde o 4º trimestre de 1996.
"Depois de dois anos, o Brasil saiu da pior recessão do século. Neste período, milhões de brasileiros perderam seus empregos, milhares de empresas quebraram e o Estado caminhou para a insolvência. O Brasil perdeu a confiança dos investidores e a confiança em si mesmo", declarou Meirelles, por meio de nota divulgada à imprensa.
O titular da Fazenda acrescentou que o "forte crescimento da economia neste início de ano é uma comprovação de que este processo já mudou". Ele ponderou, entretanto, que "ainda há um caminho a ser percorrido para alcançarmos a plena recuperação econômica, mas estamos na direção correta."
Para a coordenadora de Contas Nacionais do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Rebeca Palis, é preciso “esperar para ver o que vai acontecer neste ano ainda” antes de afirmar que a recessão ficou para trás.
“Tivemos um crescimento no primeiro trimestre, até expressivo, só que contra uma base reduzida. Tivemos oito trimestres seguidos de queda. Então vamos ver o que virá aí para a frente”, afirmou.
Questionada sobre os efeitos da crise política nas contas do segundo trimestre e também sobre os indicadores antecedentes mais fracos, Rebeca respondeu que “tudo influencia”.
Ela destacou ainda os efeitos da agropecuária na economia brasileira que devem continuar contribuindo no período de abril a junho, principalmente, as culturas de soja e o milho.
No primeiro trimestre, se a economia brasileira fosse exclusivamente agrícola, o Produto Interno Bruto (PIB) teria crescido 0,8%, comparado a igual período de 2016, em vez de ter caído 0,4%. Contando ainda com a atividade extrativa mineral, a alta alcançaria 1%.
Acúmulo de estoques
O avanço de 1,0% do PIB brasileiro no primeiro trimestre de 2017 (ante o quarto trimestre de 2016) não foi decorrente da alta no consumo, foi de acúmulo de estoques, apontou Rebeca Palis.
O avanço expressivo no PIB Agropecuário (13,4% no primeiro trimestre de 2017 em relação ao quarto trimestre de 2016) e a alta de 0,9% no PIB Industrial (0,9%) não foram acompanhados por crescimentos no Consumo das Famílias (-0,1%), Consumo do Governo (-0,6%) e Formação Bruta de Capital Fixo (-1,6%).
Embora as exportações tenham aumentado 4,8%, não explica sozinho o crescimento do PIB no período, ressaltou Rebeca.
“Muito do crescimento da agropecuária a gente ainda não absorveu foi parar na variação de estoque. Soja, milho… Até porque o preço de commodities agrícolas não está tão favorável”, disse a coordenadora do IBGE. “Eu produzi, qual o destino dele? Tem a questão do preço, mas não tem demanda ainda. Parte da safra está sendo consumido pelas famílias, porque os preços não estão altos mas parte está indo para os estoques”, completou.
Rebeca explicou que a componente Estoque não tem ajuste sazonal, por isso não figura entre os resultados do PIB pela ótica da demanda. “Se fosse possível dessazonalizar, estaria bastante positiva”, contou. “Estamos com acúmulo de estoques de R$ 22 bilhões no primeiro trimestre”, acrescentou.
No primeiro trimestre, a queda nos investimentos foi puxada pela importação de máquinas e equipamentos e pela construção civil.
O consumo das famílias manteve-se praticamente estável. No setor externo, houve aumento nas exportações de veículos automotores, petróleo e minério de ferro, com preços mais favoráveis, apesar da valorização cambial.
O resultado do trimestre foi puxado pela Agropecuária, que cresceu 13,4% em relação ao trimestre anterior e 15,2% em relação ao mesmo período de 2016.
Já a Indústria subiu 0,9% em relação ao trimestre anterior, mas ainda acumula queda de 1,1% na comparação anual.
Houve alta anual em áreas como Extração Mineral (+9,7%) e queda em setores como Construção (-6,3%) e Indústria de Transformação (-1%).
Os Serviços ficaram estagnados na comparação trimestral mas tiveram queda de 1,7% em relação a 2016.
Todas as outras principais medidas de demanda interna continuam em queda. O consumo das famílias, por exemplo, a mais importante delas, teve queda de 0,1% no trimestre e de 1,9% em relação a 2016.
“Esse resultado pode ser explicado pelo comportamento dos indicadores de crédito e mercado de trabalho ao longo do período”, diz o comunicado.
A formação bruta de capital fixo, que mede o investimento na economia, caiu 1,6% na comparação trimestral e 3,7% na comparação anual.
A taxa de investimento como proporção da economia caiu mais de um ponto percentual em um ano: foi de 16,8% no primeiro trimestre de 2016 para 15,6% no primeiro trimestre de 2017.
Já a taxa de poupança teve um movimento contrário e em um ano foi de 13,9% para 15,7% do total do PIB.
As exportações subiram 1,9% comparado ao ano anterior enquanto as importações subiram 9,8%, efeito de uma valorização cambial de cerca de 20% no período e também da recuperação econômica.
Na comparação internacional, o Brasil ficou em último lugar entre 39 países no ranking de crescimento anualizado divulgado pela Austin Ratings.
Já o valor adicionado da indústria extrativa, que registrou alta de 9,7% em relação ao primeiro trimestre de 2016, contribuiu com alta de 0,2 p.p. no PIB total nessa base de comparação.
Dessa forma, se as demais componentes do PIB tivessem variação nula, a atividade econômica poderia ter registrado alta nessa base de comparação. “Se a gente só tivesse na economia a agropecuária e indústria extrativa, sem imposto, sem nada, a gente teria uma alta de 1,0% (no PIB)”, disse Rebeca, em entrevista coletiva na sede do IBGE.
Safras
O desempenho da agropecuária foi puxado pelas safras de soja, milho, arroz e fumo, que pesam 50% no valor da produção, segundo Rebeca. Como as safras de milho e soja seguem sendo colhidos no segundo trimestre, esses produtos deverão continuar impulsionando o PIB da agropecuária entre abril e junho, disse a pesquisadora.
Rebeca fez a ressalva, porém, de que a safra recorde esperada para este ano se compara com a quebra do ano passado, ou seja, a base de comparação é fraca.
Câmbio
A pesquisadora do IBGE destacou ainda que a valorização cambial teve influência no desempenho das exportações no primeiro trimestre, quando comparado com igual período de 2016.
O IBGE calculou a valorização cambial média em 20% na comparação com os dois períodos. As exportações subiram 9,8% na mesma base de comparação.
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