Publicação semestral tem propósito de apresentar principais resultados de análises sobre Sistema Financeiro Nacional.
Nesta quinta-feira (18), O Banco Central (BC) divulgou o Relatório de Estabilidade Financeira (REF) referente ao primeiro semestre de 2014. O REF é uma publicação semestral destinada a apresentar, com foco no risco sistêmico, os principais resultados das análises sobre o Sistema Financeiro Nacional, especialmente com respeito à sua dinâmica recente, às perspectivas e ao grau de resiliência a eventuais choques na economia brasileira ou no próprio sistema.
No relatório, o BC acrescenta que “não há expectativa de retomada expressiva do crédito”. Além disso, o BC avalia que “sem movimentos relevantes na Selic e nas taxas de longo prazo, os ganhos adicionais com tesouraria [títulos] tendem a ser menores”.
O Banco Central avalia que a inadimplência do sistema bancário se mostra resistente e que, em função disso, as despesas de provisão não devem apresentar recuo. No trecho do Relatório de Estabilidade Financeira (REF) que fala sobre esse colchão que faz frente ao risco de calote, a autoridade monetária diz que não se espera uma redução da inadimplência.
Na avaliação do diretor de Fiscalização do BC, Anthero de Moraes Meirelles, no entanto, a inadimplência continua comportada, mostrando estabilidade desde dezembro do ano passado. Admite que há risco de subir "um pouco", mas descarta a possibilidade de uma alta mais expressiva, como visto no passado. Ainda assim, o diretor de Fiscalização da instituição, Anthero Meirelles, previu um crescimento de 14% do crédito em 2014. Até agora, a previsão oficial do BC era de 12%, com a revisão prevista para ser anunciada ainda neste mês.
Questionado sobre se esta já seria a nova estimativa da instituição, Anthero disse que se trata de uma avaliação pessoal, já que a perspectiva do diretor é de um aumento da oferta ao final deste ano. Meirelles afirmou que os bancos públicos ainda puxam o crédito mais do que os privados, mas disse acreditar numa convergência de oferta entre essas duas partes "de forma mais harmônica".
De acordo com o diretor, não há muito espaço para a ampliação do lucro dos bancos, até porque o crédito em expansão tem “margem limitada” – como o financiamento imobiliário – ou muita concorrência, como o consignado em folha de pagamento.
Meirelles também avaliou que as medidas que liberam mais recursos para os bancos emprestarem têm efeito defasado. “Temos percebido, na margem, alguma reação. São dados ainda na margem que não nos dão conforto para dizer algo além disso. Mas não tenho dúvida de que essas medidas têm efeito. Hoje há um certo concesso da eficácia, da efetividade dessas medidas na dinâmica do crédito, da economia”, disse. Apesar disso, Meirelles disse que o BC não espera um “boom no crédito nem é o objetivo”. “Forma medidas de normalização”, resumiu.
Segundo o BC, elevações da taxa Selic contribuíram para aumentar as receitas dos bancos com títulos de renda fixa, “ao passo que, com a redução das taxas de juros de longo prazo, o ajuste a valor de mercado de títulos, que vinha gerando perdas desde o início de 2013, voltou a ser positivo no primeiro semestre de 2014”.
O Comitê de Política Monetária (Copom) do BC interrompeu o ciclo de alta da Selic em maio, quando segurou os juros após nove aumentos consecutivos. A Selic está atualmente em 11% ao ano.
O Relatório de Estabilidade Financeira também mostra que “a solvência do sistema bancário continua elevada, com níveis de capitalização adequados para suportar os riscos assumidos”. O BC acrescenta que os bancos têm capacidade elevada de suportar situações adversas.
O relatório do BC aponta também que a solvência do sistema bancário apresentou estabilidade e mantém-se em patamar elevado. "O Sistema de Pagamentos Brasileiro (SPB) funcionou de forma eficiente e segura no primeiro semestre de 2014." Em teste de estresse, os bancos no Brasil continuaram capazes de suportar choques, informou o documento.
O Índice de Basileia do Sistema Financeiro Nacional atingiu 15,5% no primeiro semestre de 2014, de acordo com o BC. Na segunda metade de 2013, estava em 16,1% e o nível mínimo regulatório é de 11%. O Índice de Liquidez do sistema passou de 1,58 para 1,51 no primeiro semestre de 2014.
As provisões para o risco de crédito no último semestre se apresentam adequadas a um novo cenário que aponta para leve aumento do risco de crédito, conforme o relatório. Esse aumento, diz o BC, seria decorrente da elevação das taxas de juros, do provável fim do ciclo de redução da inadimplência e da redução no índice de cobertura. "Compõem também esse ambiente o menor ritmo de crescimento do crédito e a manutenção de práticas e de critérios saudáveis na concessão de novas operações de crédito", observou o BC.
O documento informa ainda que o sistema bancário brasileiro manteve-se apresentando baixo risco de liquidez e elevada solvência no período. "O risco de liquidez continua baixo, apesar do aumento no período em razão do movimento de alocação de recursos para crédito, principalmente em financiamentos habitacionais, que provoca redução da participação dos ativos líquidos no balanço das instituições e alongamento de prazo nas carteiras de crédito"
A análise feita pelo BC também mostra a contínua desaceleração do mercado de crédito, em um cenário marcado por crescimento fraco e taxa de juros elevada. "A queda no ritmo do crescimento do crédito doméstico acentuou-se no período (semestre passado)", relata o documento.
Para 2014, o BC projeta expansão de 12 por cento no mercado de crédito, abaixo dos 14,7 por cento vistos no ano anterior.
A fim de conter desaceleração maior, o BC recentemente anunciou medidas para aumentar a oferta de empréstimos, mesmo numa conjuntura marcada pela política monetária restritiva, com potencial para injetar 70 bilhões de reais na economia.
O relatório do BC também mostrou que, com a normalização da política monetária nos países desenvolvidos, haverá transição para um cenário de custo de financiamento mais alto e liquidez menor para as empresas.
Não obstante o crescimento moderado nas principais áreas econômicas, os mercados financeiros se caracterizaram pela diminuição da volatilidade, em especial na segunda metade do primeiro semestre de 2014. No Brasil, os juros futuros apresentaram trajetória de queda, o mercado de ações exibiu tendência de alta e, no mercado de câmbio, houve redução da volatilidade da cotação do real frente à moeda norte-americana.
Nesse cenário, o sistema bancário brasileiro manteve-se com baixo risco de liquidez. A solvência do sistema permaneceu em patamar elevado e, nas simulações de situações de estresse, apresentou adequada capacidade de suportar efeitos de choques decorrentes de cenários macroeconômicos adversos ou de mudanças abruptas nas taxas de juros, de câmbio ou de inadimplência.
As provisões apresentam-se adequadas a um novo cenário que aponta para leve aumento do risco de crédito, decorrente da elevação das taxas de juros, do provável fim do ciclo de redução da inadimplência e da redução no índice de cobertura. O retorno sobre o patrimônio líquido do sistema avançou no semestre, impulsionado por ganhos com tesouraria, os quais compensaram a queda na margem líquida de crédito.
Por fim, o Sistema de Pagamentos Brasileiro funcionou de forma eficiente e segura no primeiro semestre de 2014. Nos sistemas de transferência de fundos, a liquidez intradia agregada disponível continuou acima das necessidades das instituições financeiras participantes, o que garante liquidações com tranquilidade, sobretudo no que diz respeito ao Sistema de Transferência de Reservas, o sistema de transferência de grandes valores do BC.
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