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terça-feira, 15 de outubro de 2013

Nobel de Economia para três americanos

O Prêmio Nobel da Economia foi atribuído a três norte-americanos, Lars Peter Hansen, Eugene Fama e Robert Shiller, por trabalhos sobre mercados financeiros, anunciou a Academia Sueca de Ciências. O prêmio distingue a "análise empírica de preços de ativos".

Na década de 80, Robert Shiller, da Universidade de Yale, descobriu que os preços das ações oscilam muito mais do que os dividendos das empresas e que a relação entre preços e dividendos mantém um padrão em um prazo longo. O pesquisador ficou conhecido em todo o mundo por antecipar a crise americana de 2008, gerada pela bolha imobiliária (aumento desproporcional dos preços dos imóveis nos EUA), que terminou por ser um dos problemas que deflagraram a crise econômica mundial. 
As análises empíricas dos preços de ativos dos americanos Eugene Fama, Lars Petes Hansen e Robert Shiller foram concluídas com achados 'surpreendentes e contraditórios': não é possível prever sua evolução a curto prazo, mas sim em períodos mais longos, assinalou a em decisão a Real Academia da Ciência Sueca.

A valorização dos ativos financeiros é uma das subáreas mais ativas na economia, com uma importância capital para os investidores e em macroeconomia, ao proporcionar informação relacionada com o consumo e a aquisição de capital físico, mas também para as decisões sobre as economias do povo em comum.
Na década de 1960, Eugene Fama, da Universidade de Chicago, e seus colaboradores demonstraram que os preços das ações são extremamente difíceis de prever no curto prazo e que novas informações são incorporadas rapidamente nos preços. Esses resultados não só teve um impacto profundo em pesquisas posteriores, como também mudaram a prática do mercado. O surgimento dos chamados fundos de índices nos mercados de ações em todo o mundo é um exemplo dos resultados das pesquisas.
Lars Peter Hansen, da Universidade de Chicago, desenvolveu um método estatístico que é adequado para testar teorias racionais de precificação de ações. Usando este método, Hansen e outros pesquisadores descobriram que as modificações dessas teorias percorrer um longo caminho para explicar os preços.

A possibilidade de prever os preços dos ativos está vinculada ao funcionamento dos mercados e aos fatores como o risco. As análises estatísticas elaboradas por Fama na década de 1960 corroboraram que os preços anteriores têm pouca importância para prever a rentabilidade no futuro imediato.

Em um estudo que Fama assinou em 1969 junto a outros três pesquisadores, foi demonstrado que o mercado reage de forma rápida às novas informações, mas depois o preço das ações fica extremamente complicado de prever.
Caberia supor que essa dificuldade a curto prazo deveria aumentar em períodos de tempo maior, mas as pesquisas empíricas de Shiller em mercados de ações e bônus concluíram o contrário: uma alta relação do preço com relação ao dividendo em um ano costuma seguir uma queda em anos posteriores.

E esse modelo previsível a longo prazo foi confirmado depois por outros pesquisadores em muitos outros mercados.

Hansen desenvolveu uma ferramenta estatística, o Método Generalizado dos Momentos (GMM), para comprovar se os preços de ações históricas se ajustavam ao Modelo de Avaliação de Ativos Financeiros (CCAPM), o mais conhecido para conectar esses preços com as decisões dos indivíduos.

Sua conclusão foi que este modelo deve ser rejeitado, porque não pode explicar os dados, confirmando os achados preliminares de Shiller: os preços dos ativos oscilam demais.

Os três agraciados, que compartilharão 8 milhões de coroas suecas (US$ 1,3 milhão) do prêmio, figuravam nas apostas prévias, sobretudo Shiller, cujo nome está soando como candidato há anos.
Shiller nasceu em 1946 em Detroit, tornou-se doutor em 1972 no Instituto de Tecnologia de Massachusetts e hoje atua na Universidade de Yale.

Nascido em 1939 em Boston, Fama virou doutor em 1964 na Universidade de Chicago, à qual segue adscrito, da mesma forma que Hansen, 13 anos mais jovem e nascido em Illinois.

Fama, Hansen e Shiller sucedem no histórico prêmio seus compatriotas Alvin E. Roth e Lloyd S. Shapley, agraciados no ano passado por seus estudos de 'engenharia econômica' sobre os mercados e seus problemas de projeto.
O Nobel de Economia, cujo nome real é Prêmio de Ciências Econômicas em memória de Alfred Nobel, foi adotado em 1969 pelo Banco da Suécia, que o financia, e é o único dos seis prêmios que não foi designado pelo magnata sueco que criou os prêmios há mais de um século.

A Real Academia das Ciências sueca é a encarregada de outorgar o prêmio, que tem a mesma dotação que o resto.

Os prêmios Nobel serão entregues em 10 de dezembro, aniversário da morte de seu criador.
Shiller, que foi premiado junto com Eugene F. Fama e Lars Peter Hansen por suas pesquisas em análise de preços de ativos financeiros, concedeu entrevista à BBC Brasil no final de agosto, um dia antes de sua passagem pelo Brasil para um congresso da BM&FBovespa.
O professor da Universidade Yale citou suas preocupações quanto a uma possível bolha imobiliária em cidades como São Paulo e Rio - ele foi um dos primeiros a identificar a alta excessiva nos preços de imóveis nos EUA, que levou à crise econômica em 2008 – e sobre seu livro mais recente, "Finanças para uma Boa Sociedade".

Na obra, ele faz uma defesa do capitalismo financeiro, mas diz que o desafio dos economistas e políticos é 'ajudar as pessoas a encontrar um propósito social mais amplo no sistema econômico', reduzindo desigualdades sociais, usando melhor os recursos públicos e atraindo incentivos privados para projeto sociais.
Questionado sobre a recente onda de protestos populares no Brasil, Shiller destacou a importância da adoção de novas iniciativas financeiras a fim de aprimorar a relação entre o governo e a população.

"A solução dos problemas (levantados pelos protestos) passa por melhorar o entendimento sobre as atividades econômicas", afirmou.

"Desenhos" de mercado
Não há ferramentas prontas, mas ideias inovadoras para isso incluem, por exemplo, modos alternativos de financiar políticas sociais. Shiller cita o exemplo dos "Social Impact Bonds" ("títulos de impacto social", em tradução livre), emitidos pela primeira vez em setembro de 2010 pelo governo britânico.

A ideia é atrair financiadores privados para projetos públicos, que têm uma meta a ser cumprida (por exemplo, melhorar a qualidade da saúde, segundo um número predeterminado de indicadores). Se o projeto for bem-sucedido e suas metas forem cumpridas, o governo paga "dividendos" aos investidores.
É semelhante a um mercado de ações, em que empresas que têm bons resultados pagam dividendos aos acionistas que assumiram o risco ao comprarem as ações.

No final de 2012, o governo britânico anunciou a venda de títulos para financiar um projeto de apoio a 380 famílias carentes, com a meta de evitar que os adolescentes dessas famílias necessitem futuramente de subsídios estatais. Se o projeto funcionar, investidores receberão retornos de 10% sobre o dinheiro investido. Para o governo, o pagamento compensa porque evitará os custos futuros com subsídios, por exemplo.
Para Shiller, a iniciativa cria um incentivo para os investidores privados buscarem soluções eficientes – e que, portanto, deem retorno financeiro – para problemas do setor público. E, ao mesmo tempo, é uma alternativa às limitações orçamentárias dos governos, que só paga lucros aos investidores se o projeto for bem-sucedido e trouxer economias aos cofres públicos.

A ideia é citada por Shiller faz parte do que ele chama de "designs de mercado", soluções financeiras para problemas sociais.
Outra iniciativa semelhante citada em seu livro é a projetada por Alvin Roth, da Universidade de Harvard, que construiu uma espécie de mercado de alocações de rins – para diminuir o número de mortes de pessoas que não conseguiam transplante do órgão nos EUA por falta de doadores compatíveis.

No modelo de Roth, um familiar de um paciente doa seu rim – não ao seu parente, mas a alguém geneticamente compatível. O trabalho do órgão projetado por Roth é tornar essa complexa distribuição eficiente, com o objetivo de que todos os pacientes recebam o rim de alguém.

O projeto ainda não conseguiu tornar essa distribuição perfeita, mas tem evitado mortes de pacientes, diz Shiller.

Esses mesmos princípios são aplicados nos já conhecidos mercados de carbono, em que empresas e governos que conseguem reduzir a emissão de gases poluentes vendem créditos para os que poluem mais – criando um incentivo financeiro para os menos poluidores.
São, segundo ele, "formas de humanizar as finanças e fazê-las mais relevantes para o bem-estar humano".

"As finanças não devem ser vistas como algo puramente elitista – é uma força que pode ajudar a criar uma sociedade mais próspera e igualitária, transformando impulsos criativos em produtos e serviços", diz no livro.

Bolhas?
Ao mesmo tempo, Shiller diz que o mercado ainda precisa de mais ideias para democratizar o ensino financeiro, para projetar instituições que evitem os abusos que levaram à crise de 2008 e para prever bolhas como a imobiliária, "antes que estas contaminem toda a economia".

Em sua passagem pelo Brasil, Shiller despertou polêmica ao levantar a hipótese de uma bolha imobiliária no Brasil, citando preocupação com o fato de os preços dos imóveis terem dobrado nos últimos cinco anos nas maiores cidades brasileiras.
Ele alega que, nos Estados Unidos, a possibilidade de um imóvel perder valor era vista como inimaginável – e, no entanto, foi isso o que aconteceu com a crise de 2008, fazendo com que muitos proprietários vissem seu patrimônio se depreciar. Em muitos casos, hipotecas passaram a superar o valor dos imóveis.

Na ocasião, o ex-presidente do Banco Central Gustavo Franco declarou que é preciso "ficar de olho" nos preços dos imóveis, mas que não via perigos imediatos de uma bolha imobiliária, porque considerar que a demanda por imóveis se mantém consistente no país.

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